UMA NOITE DE SUPERAÇÃO
Gosto de vir aqui escrever sobre cada volta de bike que dou. A de ontem não podia ser excepção.
Sou uma pessoa consciente dos meus handicaps e das minhas dificuldades. Sou crítico, sou autocrítico, sou muito, por vezes demasiado. Mas também uso esses handicaps e dificuldades como forma de humor sobre mim mesmo. Mas também sei do que sou capaz, sou consciente das minhas virtudes e qualidades e fico, claro, satisfeito quando faço bem o que tenho para fazer, ultrapasso as minhas dificuldades. Não ando a fazer eco delas, mas sinto orgulho e preenche-me o ego.
Isto para dizer que ontem fui motivo de orgulho para mim próprio. Sim, estou muito orgulhoso da volta que fiz, das dificuldades qui superei em 58km de pudalanço.
De início levei com um ritmo de andamento em que vi muitas vezes o conta quilómetros passar os 20km/h (sim, para mim é elevado), não sendo a descer, nem a subir, é muito intenso logo assim, de estalo, sem aquecer. Aguentei-me.
Mais à frente, um bom par de quilómetros viria a ultrapassar umas valentes subidas, de queixo colado ao avanço da bike, de avózinha e carreto grande atrás, mas cheguei lá. Com a desvantagem de (quase) não descansar nos topos, ter de seguir logo viagem.
No ponto mais distante de casa a que estive, já com 30km nas pernas, portanto tendo outros tantos para fazer de regresso, começo a ter dificuldades na transmissão com a corrente, em qualquer disco do pedaleiro a roçar no desviador. Daí para a frente foi tentar arranjar um compromisso de velocidade/pedaleiro que me permitisse não lixar mais a máquina, nem a mim...
Fiz grande parte dos quilómetros de regresso com um andamento pesado, com muita subida e subidinha a fazer grande esforço, por trilhos nem sempre limpos, muito técnicos e cheios de pedras. Para aliviar o roçar da corrente vim quase todo esse percurso também com o polegar esquerdo a pressionar a manete do desviador, chegando ao ponto de perder a força nesse dedo.
Claro, vieram as cãibras e a luz ameaçava já com pouco bateria, para ajudar à festa.
Ultrapassei muitos trilhos e subidas com muito esforço, mas ultrapassei. Ali para as bandas de São João da Venda a luz apagou-se, foi-se a bateria. Com pouca iluminação pública foi a apalpar terreno, vá lá, já em asfalto.
Os últimos quilómetros foram feitos com a mão direita a carregar na manete do desviador, do lado esquerdo do guiador. De braço cruzado e em desequilíbrio porque ou vinha assim para vir num andamento mais pesado ou vinha num mais leve, a bater claras em castelo.
Por tudo isto digo que me sinto orgulhoso do que fiz e ultrapassei ontem à noite, em cada quilómetro em que vivi em cima da minha Trek, roda 26, com travões V-Brake. Sim, a minha companheira destas aventuras há para aí uns 15 anos.
E era isto que tinha para vos contar.
Para terminar quero deixar uma nota de pesar pelo falecimento do amigo João Coutinho, o conhecido João da Roda, com quem fiz a primeira volta de bicicleta nocturna, a que se seguiriam muitas outras, com grupos que chegaram a ter por volta de 30 participantes. Foi também um grande dinamizador do BTT em Faro.
As minhas sentidas condolências a toda a família e amigos, em especial à esposa e aos filhos.
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Uma célebre aventura com o João da Roda com travessia do Vascão |